quarta-feira, 21 de fevereiro de 2018

TRÊS COROAS NEGRAS (TRÊS COROAS NEGRAS #1)


"A cada geração na ilha de Fennbirn nascem rainhas trigêmeas: três herdeiras da coroa, cada uma com um poder mágico especial. Mirabella é uma elemental, capaz de produzir chamas e tempestades com um estalar de dedos. Katharine é uma envenenadora, com o poder de manipular os venenos mais mortais. E Arsinoe é uma naturalista, que tem a capacidade de fazer florescer a rosa mais vermelha e também controlar o mais feroz dos leões. Mas para coroar-se rainha, não basta ter nascido na família real. Cada irmã deve lutar por esse posto, no que não é apenas um jogo de ganhar ou perder: é uma batalha de vida ou morte. Na noite em que completam dezesseis anos, a batalha começa."

São 23h, eu estou de mudança amanhã e devia estar encaixotando todas as coisas que consigo ver espalhadas pela minha sala do conforto deste sofá onde digito. MAS NÃO. Como você pode perceber, cá estou eu postando uma resenha após um longo recesso de final de ano (gente, sem ressentimentos, todo mundo sabe que o ano só começa depois do Carnaval). E sabe de quem é a culpa por eu procrastinar minhas obrigações mais imediatas em prol de blogar? Da Kendara Blake. E de Três Coroas Negras.

Há muitos meses eu pondero se deveria ler esse livro ou não. Por um lado, a premissa parecia meu tipo de coisa (Rainhas! Rainhas que precisam matar umas às outras! Poemas sinistros escritos na contracapa! E tudo soando muito sombrio e divertido). Por outro, vi mais duas ou três estrelas em resenhas do que gostaria e um tema comum em todos elas: o livro era muito lento, nada acontecia, tudo era supostamente chato e muita gente abandonou ou teve dificuldades de terminar.

Comecei a leitura essa semana com a expectativa tão baixa por tudo isso (mas precisando satisfazer a minha curiosidade) que, tendo acabado de ler tudo 48h depois e já comprado a sequência, eu preciso perguntar: pessoas do universo, será que nós lemos a mesma obra?

Com muito orgulho, eu apresento a todos vocês mais um livro da categoria “opiniões pouco populares da Léka”, senhoras e senhores.  Porque Três Coroas Negras foi, para mim, um arraso.

Eu, sendo muito madura sobre minha divergência de opinião.

Em linhas gerais, Três Coroas Negras fala sobre as trigêmeas Arsinoe, Katharine e Mirabella, destinadas a competir entre si pela coroa de Fennbirn, como todas as rainhas antes delas fizeram. Isso porque a tradição da ilha de Fennbirn demanda que as trigêmeas de cada rainha sejam separadas aos seis anos e criadas por grupos de poder distintos na ilha, de acordo com suas próprias habilidades (ou “dádivas”). Elas se reunirão somente na idade adulta, quando se espera que cada uma delas mate suas irmãs e tome para si a coroa.

No início do livro, estamos próximos a esta data em que elas estarão legalmente autorizadas a assassinar suas irmãs, mas há um problema: apenas Mirabella, criada pelos elementais, parece ter desenvolvido sua dádiva. Sim, a sinopse de divulgação do livro, que eu reproduzi no início do post, não é acurada, pois Katherine e Arsinoe não desenvolveram nenhum poder e estão ficando sem tempo se quiserem ter uma chance de sobreviver. Claro que as coisas não seriam tão simples assim, mas falar mais do que isso seria dar spoilers e as reviravoltas que Três Coroas Negras oferece são deliciosas de se ler.


Ao optar por alternar três pontos de vista, é claro que algumas sessões das estórias de cada uma das rainhas não são aprofundadas. A autora, contudo, consegue fazer isso funcionar bem e o lapso temporal e desenvolvimento das personagens e seus relacionamentos é verossímil. A única exceção, eu diria, é um dos relacionamentos de Mirabella, que possui uma intensidade desconectada com os acontecimentos – quem ler, vai identificar com facilidade do que estou falando.

Aliás, criar uma estória com pontos de vista alternados em que todos mais ou menos prendem a atenção do leitor de igual forma é algo extremamente difícil, mas em Três Coroas Negras não me senti tentada a pular capítulos nenhuma vez. E olha que eu não sou exatamente disciplinada nesse aspecto –  Game of Thrones é a prova. Porém Arsinoe, Katherine e (para mim, talvez um pouco menos) Mirabella são interessantes de maneiras distintas e apresentam ao leitor um ponto de vista diverso sobre o universo, as relações e as pessoas dessa estranha ilha que é Finnburn. Poder acompanhar a jornada de cada uma delas – e, principalmente, como estas jornadas eventualmente colidem - é um processo interessante e pouco óbvio. Cada uma das rainhas é a protagonista da sua estória e, ao mesmo tempo, a vilã da estória de suas irmãs. Poder ter uma personagem apresentada em seus “dois lados da moeda” ao leitor é algo tão raro...e aqui temos três!

É verdade que Três Coroas Negras não é tão sombrio quanto poderia ser (ou como pretende ser na divulgação e maravilhoso poema da sinopse), mas possui uma atmosfera própria e envolvente. Há espaço para a construção de mundo ser aprofundada, mas o que vimos até aqui é suficiente para um primeiro livro e sinto que mais do que isso poderia resultar em “content dumping”, especialmente considerando que a velocidade da narrativa está um pouco abaixo do habitual no gênero. Como já comentei, para mim isso foi mais um trunfo do que um problema. Para quem já leu "O Rei Demônio", de Cinda W. Chima, e a velocidade da narrativa das duas obras é similar.

E aquele final? Eu não mudaria nada. Há reviravoltas, revelações e perguntas suficientes para me manter entretida por pelo menos mais um livro, mesmo que nada de novo aconteça. Aliás, preciso acabar esse post logo para comprar a sequência, "Um Trono Negro", para o meu Kindle acabar a mudança e ir dormir.


Sugiro que Três Coroas Negras seja lido com o coração aberto e sem uma expectativa muito rígida sobre como a história irá se desenvolver. E, se você achar o início lento, talvez neste caso valha a pena insistir – vi mais do que uma resenha dizendo coisas como “quase abandonei porque nada acontecia, mas ainda bem que insisti mais um pouco”.

Ou, quem sabe, você é como eu e sai amando a coisa toda desde a página um.


Narrativa: 4/5
Desenvolvimento das personagens: 4/5
Avaliação Geral: 4/5

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