Victoria Aveyard
424 páginas
Editora Seguinte
A Rainha Vermelha é um livro curioso. Tem
um alto valor no quesito entretenimento, mas não é um bom livro. É genérico
demais para ser bom, mas viciante o suficiente para te fazer concluir a leitura
rapidinho se você passar das primeiras 50 páginas, que são bastante insossas.
O time responsável por divulgar o livro
nos Estados Unidos disse que se trata de um “Graceling encontra A Seleção”. É
sempre uma boa jogada de Marketing associar um livro a outros sucessos recentes
e vende-lo como uma espécie de mash up
daqueles que só o fandom pode
verdadeiramente apreciar. E digo isso sem nenhum traço de ironia porque foi
exatamente isso que me vendeu o livro – e eu sou pós-graduada em Marketing,
então vamos combinar que I should know better.
Vocês me pegaram direitinho. |
O livro, porém, não cumpre o que promete.
É uma leitura rápida e divertida, então se você estiver a fim de uma leitura de
verão despretensiosa é uma escolha para ler a beira da piscina sem precisar
queimar muitos neurônios. Por outro lado, fica aquém de A Seleção (que, vamos
ser sinceros, não é um livro tão bom assim, mas um guilty pleasure que eu não tenho vergonha nenhuma de admitir) e
muito, muito aquém de Graceling (esse sim um livro maravilhoso).
Quanto a ser um mash up...Bem, isso o
livro é mesmo. Nessa parte se entrega o prometido, mas o que é vendido como um
chamariz para os leitores investirem no livro é justamente sua maior fraqueza.
O problema de “A Rainha Vermelha” reside justamente no fato de ser genérico
demais e ser construído a partir de uma colcha de retalho de inspirações que
vão, sim, de Graceling a A Seleção, mas que passam também por Jogos Vorazes e
basicamente qualquer distopia bem sucedida lançada nos últimos cinco anos. A
medida em que você vira as páginas, fica difícil deixar para lá a sensação de
que você já viu aquilo que está lendo em algum lugar...Ou em vários lugares.
“A Rainha Vermelha” se passa em Nova, cuja sociedade é dividida pelo sangue – e de
modo bem literal. Aqueles com sangue prateado possuem poderes sobrenaturais
(ler mentes, agilidade, manipulação da luz, força sobre humana e tudo que os X
Men podem oferecer a você) e formam o extrato social privilegiado. São os
membros da família real e das casas nobres. Já os de sangue vermelho, que
formam a maior parte da população, não possuem poderes e são utilizados pela
classe prateada dominante para o trabalho braçal que sustenta seus privilégios.
E, principalmente, os vermelhos são obrigados a se alistar no exército de Nova
se, ao completarem 18 anos, não estiverem trabalhando. E com a guerra na qual o
país está envolvido, ser chamado para servir é uma sentença de morte.
Nesse contexto, nossa protagonista Mare
Barrow, filha de uma família de vermelhos, comete pequenos furtos para
sustentar sua casa e aguarda com pouca expectativa seu aniversário de 18 anos, quando
será convocada para servir no exército. Porém, uma espiral de eventos coloca
Mare Barrow dentro do palácio real e um incidente revela que a garota possui um
poder sobrenatural que só um prateado deveria ter. Para ocultar os poderes de
Mare e uma verdade que pode abalar a organização da sociedade de Nova, a
família real cria uma farsa para manter Mare sob seus olhos vigilantes e
impedir que a verdade se espalhe. Agora vivendo na Corte, Mare precisa aprender
a navegar as águas turbulentas do palácio para sobreviver, ao mesmo tempo em
que cada vez mais se aproxima dos príncipes herdeiros, Cal e Maven.
Não vou entrar em detalhes sobre o que ocorre
na Corte, afinal a chance de sair um spoiler
seria grande, mas não posso deixar de mencionar que é realmente triste essa
ideia de ausência de solidariedade feminina em ambientes competitivos. Um
problema que A Seleção já tem, de modo geral, mas que aparece de forma muito
mais branda porque a protagonista América faz amigas no grupo de garotas que
disputam o príncipe, é agravado em A Rainha Vermelha. Porque, sem nenhum
exagero, não só Mare não faz nenhuma amiga dentro de um grupo com diversas
garotas, como todas as demais a tratam extremamente mal. São cruéis, invejosas
e maldosas. E essa, além de ser uma representação pouco crível de um grupo com
diversas mulheres e que torna a caracterização do livro bastante
unidimensional, serve ainda para perpetuar o (falso) estereótipo de que mulheres não
conseguem ser amigas de mulheres. Triste ver tantos autores negligenciando a solidariedade entre mulheres.
Deixando a historia de lado e falando
sobre as personagens, Mare Barrow não conseguiu despertar minha empatia por
mais de dois segundos e, no fim das contas, me chamou a atenção que uma personagem
com uma vida tão dura possa ser tão egoísta (e não de um jeito horrivelmente
adorável, como Scarlett O’Hara). Cal, o príncipe mais velho, é de novo uma
cópia do que já se viu tantas vezes no gênero. Para mim a única personagem que
se salva com algumas camadas adicionais de profundidade é Maven, o príncipe
mais novo. Leria com alegria um livro só dele se me prometessem que a história
seria menos genérica que “A Rainha Vermelha”.
Para concluir: A Rainha Vermelha é um
livro ruim, mas divertido (tem aquela qualidade page-turner). Se estiver procurando por uma diversão
despretensiosa, vá em frente. Se você não leu muitos livros do gênero,
possivelmente vai gostar mais do que eu. Porém, se estiver procurando por algo
com um pouco mais de substância ou criatividade, eu deixaria esse passar se
fosse você.
Narrativa: 2/5
Desenvolvimento das personagens: 2/5
Fator X: É divertido, vamos admitir. Um page-turner. E Maven, especialmente ao
final, ganhou um lugar no meu coração.
Avaliação Geral: 2.5/5
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