“Passada no crepúsculo celta da velha Irlanda, quando o mito era lei, e a magia uma força
da natureza, essa é a história de Sorcha, a sétima filha de um sétimo filho, e dos seus seis amados irmãos, vítimas de uma terrível
maldição que somente Sorcha é capaz de quebrar. Em sua difícil tarefa, imposta
pelos Seres da Floresta, a jovem se vê dividida entre o dever, que significa a
quebra do encantamento que aprisiona seus irmãos, e um amor cada vez mais
forte, e proibido, pelo guerreiro que lhe prometeu proteção.”
FILHA DA FLORESTA (Sevenwaters #01)
Juliet
Marillier
608 páginas
Editora Butterfly
Sabe aquele sentimento maravilhoso quando
você encontra um livro que entra na sua lista de favoritos de todos os tempos?
É uma ocasião rara. Há muitos livros bons por aí (e outros tantos de medíocres
a terríveis), mas do tipo que te dá vontade de converter cada amigo e conhecido
em um leitor? Do tipo que te deixa pensando sobre a história que você acabou de
ler muito tempo depois dela acabar? Aqueles que criam uma conexão emocional sua
com as personagens e te fazem desejar que você os conhecesse e pudesse dar um
abraço em cada um e dizer “vai ficar tudo bem”?
Esses livros são poucos. E, quando você encontra um deles, é seu papel
espalhar o amor pelo mundo (tô vivendo uma fase hippie, não liguem). São
histórias como essa e a possibilidade de passá-las adiante o que me motivou a
iniciar um blog literário em primeiro lugar.
Tenho dificuldades de escrever resenhas de
livros que eu gosto. É sempre mais fácil escrever críticas negativas do que
positivas, mas estou tentando trabalhar nisso. Dê-me um voto de confiança, vai.
Então dá um play na música celta, pega suas runas druidas, coloca o kilt (ok, esse é escocês, mas não vamos ser preciosistas) e vem
comigo.
“Filha da Floresta” é o primeiro livro da
inicialmente trilogia “Sevenwaters”. Foi lançado em 2000 e a partir dele vieram
“Filho das Sombras” e “Filha da Profecia” como parte dos três livros
inicialmente planejados pela autora, a neozelandesa Julliet Marillier. Alguns
anos depois ela retomou o universo de Sevenwaters com “Herdeiro de Sevenwaters”
e, ainda, “Seer of Sevenwaters” e “Flame of Sevenwaters” (esses dois últimos
ainda indisponíveis no Brasil e sem tradução para o português). Cada um dos
livros da série possui uma nova protagonista e apresenta gerações diferentes
das (fortes) mulheres da família residente em Sevenwaters, um feudo no coração
de uma floresta da antiga Irlanda, onde as tradições celtas ainda são honradas
apesar do avanço do cristianismo na região. E uma das coisas mais legais da
série é rever personagens com os quais você se conectou em livros anteriores
reprisarem seus papéis com mais ou menos destaque.
Juliet Marrilier é muito feliz ao tecer
histórias que misturam fantasia com pitadas de acontecimentos históricos, como
as disputas entre os bretões e os irlandeses, além dos povos nórdicos, pelo
controle das ilhas que hoje são parte do Reino Unido e Irlanda ou ainda a
expansão da fé cristã que pouco a pouco suplantou as crenças druidas na velha
Irlanda. A autora constrói uma narrativa cheia de elementos mágicos, mas sempre
crível e bem contextualizada com uma realidade histórica real. Não é sem motivo
que ela é considerada a herdeira de Marion Ziegler Bradley.
A narrativa de “Filha da Floresta” tem
como alicerce o conto de fadas “Os cisnes selvagens” de Hans Christian Andersen.
Mas não estamos falando de um conto de fadas fofinho ao estilo Disney. A autora
aproveitou bem seu material de origem e o transformou numa jornada épica e de
partir o coração. O livro trabalha maravilhosamente bem temas como família,
dever e sacrifício.
De maneira muito simplista, porque longe
de mim atrapalhar a experiência maravilhosa que “Filha da Floresta” tem a
oferecer para vocês, o livro narra a história de Sorcha, a sétima filha da
família que governa Sevenwaters, um feudo abrigado pela floresta na antiga
Irlanda. A mãe de Sorcha morreu no parto e ela foi criada pelo seu pai, Lorde
Collum, e seus seis irmãos mais velhos, todos de personalidade distinta (mas
encantadoras a sua maneira). Sorcha pode não ser o que se espera de uma dama de
uma família abastada, afinal tecidos e bordados nunca foram sua prioridade, mas
desde pequena demonstrou grande interesse pela aplicação medicinal de plantas e
se transformou em uma jovem e talentosa curandeira.
Acreditando que uma figura materna fará
bem à Sorcha e seus irmãos, Lorde Collum casa-se com Lady Oohnagh, que se
revela uma feiticeira e lança um feitiço sobre os irmãos. Sorcha é a única a
escapar e recebe uma difícil missão a ser cumprida para libertá-los. Em sua
jornada, ela conhece Red, um bretão que acredita que Sorcha pode ser a chave
para descobrir o que ocorreu com seu irmão, Simon, que desapareceu após uma
excursão militar próxima as terras da família de Sorcha. E o destino de ambos
se entrelaça a partir daí.
Essa é a premissa básica da histórica, mas
tão satisfatória quanto a narrativa é a caracterização e desenvolvimento de
personagens. Juliet dá uma aula. Sorcha é uma mulher forte e determinada e seu
sofrimento na tentativa de cumprir a tarefa que irá libertar seus irmãos e
palpável. E, apesar de tudo, ela persevera. Red, que talvez possua o papel de
maior destaque na história após Sorcha, também é encantador e, honestamente, é
tão bom ler sobre modelos masculinos positivos após uma longa lista de
perseguidores e adeptos de relacionamentos abusivos que autores de YA vem nos
vendendo como “príncipes” ultimamente. Isso sem falar em todo o núcleo de apoio
que torna impossível não torcer por um final feliz daquele tipo bem
açucarado...e a sofrer bem mais quando cada pedra no caminho parece tornar esse
final mais distante.
“Filha da Floresta” não é só um dos
melhores livros que eu li no ano, mas é um dos melhores livros que eu li na
vida. Mais do que recomendado para qualquer um que aprecie boas histórias e
personagens cativantes e complexos. Se você é fã de contos de fadas e livros
como “As Brumas de Avalon” tem um lugar especial no seu coração, wait no more. Se joga e aproveita que a
Editora Butterfly lançou toda a trilogia original de Sevenwaters, além do quarto livro da série, “Herdeiro de Sevenwaters” em terras tupiniquins.
Narrativa: 5/5
Desenvolvimento das personagens: 5/5
Fator X: Irlanda! Contos de Fadas! Brumas de Avalon
feelings!
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